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Foto do escritorFlavia Vivacqua

Como a economia do cuidado te transforma?


Cuidar transforma! Transforma para melhor! Seja cuidar de filhos, pais, avós, parceiros e parceiras. Das pessoas que mais precisam. A economia do cuidado está em absolutamente tudo.


Caso você ainda não perceba como essa economia te impacta, sugerimos que você veja o vídeo com o poema de Thich Nhat Hanh sobre Interser ao longo deste artigo. Impactos inclusive financeiros e longe de ser o único aspecto.


Aí então, pense em alguém que cuidou e talvez ainda cuide muito de você - ou talvez você cuidando bastante de alguém por muitos anos. Agora pense nos elementos iniciais que este autor nos traz neste lindíssimo poema, mas substitua-os por:

  • O cuidado que você recebeu (ou doou) e a sua atual moradia (estrutura física);

  • O amor que recebeu na infância e tudo o que você construiu até este momento (bens materiais e não materiais);

  • Uma reserva financeira e sua disposição e disciplina para que ela existisse (ou tenha existido um dia);

  • Qualquer outra relação que você perceba como no fundo, intersomos.

O que isso tem a ver com economia do cuidado e transformação?


Bom, no final de 2021 surgiu uma impactante publicação em uma rede social deixando claro como muitas mães estão literalmente exaustas do acúmulo de funções e responsabilidades, especialmente aquelas mães que não contam com o devido apoio de parceiros e parceiras na criação de seus filhos.


Sentimos, e muito, pelo importante e necessário chamado da Helen Ramos, publicado via @revistatpm. Inclusive, choramos juntos por tantas dores.


E refletindo de forma profunda, entendemos - Lifelong Workers, Maternidade nas Empresas, Design Regenerativo e Nexo Sistêmico juntas - que a nossa forma de contribuir é agir em torno do problema para que possamos mesmo criar, desde já, novas e mais adequadas realidades.


A força das narrativas: que presentes nos esperam nos futuros que queremos viver?


A guerra dos sexos é uma narrativa que entendemos que não nos serve mais. Você vê benefício nesse tipo de narrativa? Se sim, fique à vontade para trazer os seus pontos de vista. Desde que sejam mais regenerativos e não degenerativos, tá valendo! : )


Uma forma de co-criarmos narrativas regenerativas, que influenciarão cada ação nossa no hoje é cuidarmos para que a gente não (re)caia em círculos viciosos e, por isso mesmo, cada vez mais degenerativos.


Então o nosso convite é para criarmos juntos o futuro que queremos viver e que começa agora mesmo a ser construído. E nesse futuro desejado, a nossa visão é que passamos viver em ciclos virtuosos e regenerativos.


Nela, a parentalidade é valorizada e reconhecida como um potente processo de autodesenvolvimento. A flexibilidade em nossas rotinas de trabalho e vida também faz toda a diferença e impacta em todos nós. Seja para qualquer pessoa, em qualquer condição ou contexto.


A economia do cuidado, em nossa visão, em nosso futuro desejado, passa a ser entendida como uma das principais fontes de energia do sistema econômico. Se não, talvez, a principal.


Depois de entender o que Thich Nhat Hanh explica sobre a relação da folha de papel a e nuvem, talvez ajude a tangibilizar melhor porque a economia do cuidado tem muita potência para ocupar este lugar ao sol e ser mais facilmente compreendida e honrada por todas as pessoas.



Poema Interser por Thich Nhat Hanh na voz de Flavia Vivacqua


Futuros mais femininos, futuros mais masculinos ou futuros mais integrados?


No início do século passado, Abdu'l'-Bahá disse:

“O mundo até agora tem sido governado pela força, e o homem tem dominado a mulher em virtude de sua maior força e de suas qualidades físicas e mentais mais agressivas.
Mas a balança já está mudando; a força está perdendo seu predomínio, e a vivacidade mental, a intuição, e as qualidades espirituais de amor e serviço, nas quais a mulher é forte, estão ganhando ascendência.
Em consequência, a nova era será uma era menos masculina e mais permeada pelos ideais femininos, ou para falar mais exatamente, será uma era em que os elementos masculinos e femininos da civilização estarão melhor equilibrados”.

Interseremos com mais consciência disso talvez? Diversas outras pessoas influentes e especialistas também reforçam a ascendência destes atributos “femininos” neste século.


Conforme a antropóloga Mirian Goldenberg explica, tendemos a separar os atributos entre feminino e masculino de acordo com a cultura em que estamos inseridos:

“Em sua essência, todos os valores são neutros, mas acabam atribuídos a homens e mulheres por razões culturais. (...) Tanto os homens quanto as mulheres podem exercer ambos”. Mirian Goldenberg

Ou seja, todas as pessoas (homens, mulheres, pessoas não binárias, etc) têm o feminino e o masculino dentro de si. E reconhecer isso, é premissa para que busquemos uma visão mais integrada. Perceber como no fundo, intersomos.


A necessária reconexão do feminino e masculino


O que a sociedade e as corporações precisam entender é que não faz sentido enxergarmos o masculino e o feminino como forças independentes ou avulsas. A potência está na sua interação.



Ao exemplo do post lançado pela revista TPM, mostra que as mulheres mães estão no limite, exaustas, e isso entre outras coisas, tem diversos impactos sistêmicos não apenas hoje, mas no futuro de todos nós.


Se as mulheres cansaram de seu “feminino”, por sentirem a exaustão proveniente dos tempos atuais, como seria o mundo com tamanha energia “masculina” e muito pouca “feminina”, já que todas as pessoas juntas tenderiam mais para seus lados masculinos?

Seria uma sociedade harmônica? Seria possível seguirmos evoluindo como espécie humana com tamanho desequilíbrio? Poderíamos continuar sonhando em voar?


Quais seriam os novos problemas que já estaríamos criando e seus impactos sistêmicos?


No livro Difference Works: Improving Retention, Productivity and Profitability through Inclusion, Caroline Turner apresenta como um ambiente dominado por abordagens unicamente masculinas ou femininas, existe o risco de emergir as desvantagens de cada tipo de abordagem.


Por exemplo, um ambiente organizacional com excesso de abordagens relacionadas ao masculino, em vez de ressaltar o lado “luz” dessas abordagens como: resultado, objetividade, foco; acaba se ressaltando o lado “sombra” e pode emergir: competitividade acirrada, agressividade e até falta de espiritualidade.


Da mesma forma, um ambiente com excesso de abordagens relacionadas ao feminino, em vez de ressaltar o lado "luz" como: colaboração, empatia, intuição; acaba ressaltando o lado "sombra" e pode emergir: conversas em demasia, hiper sentimentalismo e a falta de foco. É isso que queremos?


A autora segue reforçando que com equilíbrio de abordagens masculinas e femininas, a organização naturalmente vai ressaltar mais os pontos fortes e menos as desvantagens de cada abordagem (feminina e masculina), contribuindo para melhores resultados de negócio.


Tal fato é comprovado pela McKinsey em seu relatório "Delivering Through Diversity, 2018" o qual afirma que as empresas que têm mais equidade de gênero no topo das organizações têm 21% a mais de chances de terem uma lucratividade acima da média.

Precisamos reequilibrar as energias femininas e masculinas da sociedade e também nos negócios, visando gerar saúde em todos os nossos sistemas.


Os futuros que sonhamos viver depende de novas narrativas no hoje


Violência não se combate com violência. Se estamos com raiva, fúria, precisamos nos atentar, sim, a estes sentimentos e pedir ajuda.


Mas, responder com o mesmo ódio, só retroalimenta o sistema de agressividade, e nos afasta de encontrarmos soluções que nos elevem. Tanto individualmente, quanto coletivamente.



Quando nos propomos a superar os problemas da sociedade hoje, por meio de relativizar o esforço comparativamente com a sociedade ao nosso redor, corremos o risco de baixar a régua.


E com isso, perdemos também a oportunidade de construir um futuro ainda mais belo, pautado na excelência, o que será capaz de levar a sociedade para um novo patamar evolutivo.


Estamos avaliando com calma o que cada semente que lançamos tem potencial de se tornar? Ou estamos demasiadamente preocupados em “lançarmos” sementes, independente de sua qualidade e potenciais mutações?

Os futuros são construídos e não previstos. Precisamos entender que cada ação, cada palavra, cada decisão no hoje é uma semente do que colheremos amanhã.

Vale lembrar que a UNESCO iniciou uma área inteira voltada para “letramento ou alfabetização de futuros” (conhecida também pelo termo em inglês, futures literacy).


E diversas pessoas tem propagado isso mundo afora, especialmente em ambiente educacional de todos os âmbitos. Isso porque se sabe que os futuros são construídos e não previstos ou que surgem do mero acaso.


A competência em futuros e futures thinking são competências que toda a humanidade deveria compreender melhor. Não apenas futuristas e estrategistas profissionais. Caso contrário, corremos sérios riscos de seguirmos vivendo o que um dia foram futuros colonizados.


Uma das bases para a construção de futuros que queremos ver e viver, e lógico, deixar com orgulho para as próximas gerações ao passarmos o bastão, é a força das narrativas para culturas regenerativas.


E se de alguma forma endossarmos narrativas separatistas, segregadoras, desintegradoras... por mais "ódio", "fúria", "necessidade de desabafo" e/ou até mesmo uma necessidade de pertencimento que estivermos sentindo, que tipo de semente é essa que estamos ora plantando, ora ajudando a regar e disseminar?


Você pode não estar no palco. Mas se aplaude quem está, você faz parte dessa construção de futuro, consciente ou não disso e de seus reflexos a médio e longo prazo.


A cada aplauso, a depender da narrativa que você endossa, está esperando quais reflexos sistêmicos? Parou para pensar com calma no efeito bumerangue? Qual a qualidade do seu? Da sua semente ou da semente que você ajuda a regar?


Nossa visão, nosso agir em torno da economia do cuidado: movimento #cuidartransforma


Como grupo de profissionais, pessoas, pais, mães, filhos e filhas… o futuro que desejamos ver é uma sociedade em que as forças do feminino e masculino estejam em reconexão e harmonia.


Nessa nossa visão de futuro, todas as pessoas valorizam a importância da corresponsabilização e colaboração no cuidar, reconhecendo que esse é um valor essencial da nossa sociedade e carregado de potencial de transformação positiva.


O ato de cuidar está diretamente ligado à construção de um mundo futuro mais saudável. Cuidar é de todos. Homens e mulheres são igualmente preparados para o cuidado. E a parentalidade é uma forma intensa de exercitar esse cuidado, assim como cuidamos de nossos idosos.


Estamos todas e todos juntos na criação dos futuros que desejamos viver. Cada ação no hoje, conta nessa construção. Por isso, criamos o movimento #CuidarTransforma


Nele, convidamos que tenhamos um olhar especial pelo cuidado. Inclusive, no cuidado com as palavras e narrativas que escolhemos propagar, desse momento em diante. E também, no autocuidado.



Se você também sonha em viver futuros regenerativos o quanto antes, se junte ao movimento! Poste em suas redes e canais o que você pode fazer agora para contribuir nesse sentido, marcando a hashtag #cuidartransforma.


Um pequeno gesto "a mais" de cuidado, para além do que você já faz, ajuda a somar! Juntas e juntos somos mais potentes e curadores.


Nota final: este artigo foi co-criado e co-produzido por Cassiana Buosi, Flavia Vivacqua, Luciana Cattony e Susana Zaman.

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